sexta-feira, 20 de março de 2009

Abrir portas com a música

Uma paixão de sempre, tem sido para mim, a música.
Por isso ter adquirido, passado pouco tempo da chegada, um equipamento que permitia essa maravilhosa companhia.
Tinha da parte da namorada – esposa de hoje – a cooperação que permitia estar a par dos êxitos que iam surgindo, no mercado português da música.
Assim, de quando em quando, lá chegava mais um disco.
E foi à custa da música que os conhecimentos e relações pessoais se foram alargando, abrindo portas, chegando a pontos de ser um convidado de quase todos os casamentos, baptizados, ou festas que se fizeram em Salazar.
Apenas com uma condição – ter de levar comigo a aparelhagem e a música.
Por causa da música, em dada altura foi-me sugerida a realização de convívios dançantes, ao fim de semana, a levar a cabo no terraço do Hotel Miradouro, que existia em Salazar.
Tinha como companheiro nesta tarefa o Gonçalo, de Macedo de Cavaleiros.
Iniciámos os contactos, foram feitos alguns convites a moças conhecidas e o pedido para que levassem outras amigas.
O êxito foi estrondoso, passando a contar com a participação dum leque alargado de jovens, de entre as quais a filha do Governador Civil.
E é da parte de sua mãe que algumas vezes somos obsequiados com bolos, guloseimas e bebidas, ali levadas por uma funcionária.
Até que um dia a própria esposa do Governador Civil decide, de surpresa, visitar o local do convívio.
Não que houvesse atitudes menos dignas, mas bastou a postura de um ou outro par mais enlaçado para que, a partir desse momento, algumas jovens deixassem de aparecer, de entre as quais a filha, ao mesmo tempo que a gerência do hotel passava a levantar dificuldades para disponibilizar o espaço.
Coisas de um tempo passado.
Mas a música havia de proporcionar-me um momento que, de embaraçoso, se transformou numa amizade muito apreciada com o Delegado do Procurador da República da comarca de Salazar, Dr. António Lucas, que prematura e dramaticamente havia de desaparecer.
Foi no dia em que sou surpreendido com um pedido, feito através do plantão à porta-de-armas, para que fosse falar com o Dr. Delegado, ao Tribunal.
Até lá chegar, interroguei-me vezes sem conta sobre o crime que teria cometido, para que tivesse de ir ali.
Finalmente o aliviar da pressão, quando perante um repetido pedido de desculpas pelo transtorno em me deslocar ao Tribunal, o Dr. António Lucas me diz ter tomado conhecimento da minha música e, como ia casar-se, pedia se não me importava de a gravar para aquele momento.
Ao mesmo tempo faz-me o convite para participar na cerimónia, que iria decorrer em Luanda.
Longos serões foram passados a gravar música e, a partir daí, uma amizade que conduziu à minha contratação para trabalhar na firma de que também era sócio – Adelino & Sobrinhos – que não se concretizou, pela circunstância dramática de um acidente, que lhe ceifou a vida.
Fora aceite que eu iria regressar à Metrópole, após o fim da comissão.
Entretanto, solicitado por aquela firma, iria frequentar na NCR, em Lisboa, um curso para me habilitar a trabalhar com equipamento daquela marca, instalado na empresa para execução da sua contabilidade, já então mecanizada.
Após receber correspondência do Dr. António Lucas, preparava-me para frequentar tal curso, quando leio num jornal diário a notícia de um brutal acidente, na estrada de Catete, em que perdeu a vida o Delegado do Procurador da República de Salazar.
Algo abalado com o facto e ignorando quem mais estaria ao corrente do meu compromisso com o Dr. António Lucas, decido não frequentar o curso e consequentemente não voltar a Salazar.

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