segunda-feira, 2 de março de 2009

Brinde QUADRADO aos “Caldeireiros”

Era do Chefe Carvalho a expressão de "caldeireiros".
Sempre que a utilizava parecia-me querer dizer que era uma malta desenrascada e também sempre pronta a meter-se em aventuras, como as da “caça aos leitões” nas próprias sanzalas, para as sandes que haviam de ser servidas no bar do PAD.
E que boas que elas eram !
Para os lesados da caçada é que as coisas não tinham graça e por isso as queixas que foram feitas no quartel contra os caçadores fortuitos, que ainda por cima foram logo identificados pelo Jipão do Braguita.
Mas tudo se resolvia, pagando o prejuízo.
Como homenagem aos companheiros de dois anos de comissão, foi no almoço-convívio da Nazaré, em 1986, que dediquei este brinde aos caldeireiros, quadrando na dedicatória que definiu cada um deles:

Disse que para distracção
Não há melhor que o trabalho
Deve ter sido a insolação
Que apanhou o Chefe Carvalho

Com a sua forma de estar
Desportista ou de gravata
De galã tinha seu ar
O Ajudante Cachatra

Rações comeu tanta vez
P'ra fazer economias
Da tropa uma horta fez
O nosso Ajudante Dias

Tanto fez ou tanto faz
Nunca alterou sua maneira
Sempre foi um bom rapaz
O Rodrigues da Castanheira

Por ser tão organizado
Uma interrogação me agita
Terá o Miguel registado
Quantas vezes foi à sanita ?

Mesmo para um bico fino
Cair de queixo faz mossa
Mas ninguém foge ao destino
E o Ferreira beija a fossa

P’ra cheirar como as flores
Gastou muita água de cheiro
Pois eram fortes os odores
Das botas do Zé Monteiro

Ria muito mas era um triste
Aquele Furriel do Pelotão
Será que ainda existe
O Carlos Alberto Conceição ?

Deixou-nos em Salazar
Disse adeus, até à vista
Foi p'ra Luanda estudar
Não mais se viu o Baptista

Mal se via ao volante
E quase nunca abria o pio
Mas na arte era bastante
O Delfim – Algarvio

Se o mandavam trabalhar
Escapava-se o que podia
Apesar do Chefe lho chamar
Não é coirão – é Curia

Relógios ou pistolitas
P’ra ele era brincadeira
Fabricar dessas coisitas
Só o Batista Vieira

A alguém também se quer
Apenas pelo bom trabalho
P’ra além disso o Alenquer
Tinha apelido de Carvalho

No conserto do armamento
Se era bom não sei dizer
No que o Estima tinha tento
Era nas sandes, para comer

Se o Chefe não estivesse
Isso não fazia mal
As dispensas que houvesse
Assinava o Amaral

Com a barriga de então
Para o ver via-se aflito
Corre hoje com ele na mão
O Guilherme do apito

Éramos todos noivos dela
Mas somente de brincadeira
Pois as cartas da Graziela
Lia-as em voz alta o Nogueira

À gasolina fazer médias
É conta que não acaba
Era um cavalo sem rédeas
Aquela Secção do Mucaba

Desajeitado e imprudente
Perna torta e comprida
Casaram-no de repente
Ao pobre Rosca-Moída

No trabalho ou nos seus ócios
Nunca teve vida dura
Nem claros foram os negócios
Que fazia o Rua Escura

Era com ele prego-e-racha
E até por ser curtinho
Cabia dentro duma caixa
O carpinteiro S.Martinho

O Darinho das meiguices
Penteava-se qual uma dona
Por causa dessas tolices
Até lhe chamavam bichona

Se o feio vem demonstrar
Que a natureza tem falhas
Tínhamos lá um exemplar
O enfermeiro Maravalhas

Sempre tropa há-de ser
Mesmo não sendo fardado
Militar há-de morrer
O Zacarias Soldado

Era um estranho no Pelotão
Que eu não soube decifrar
Entendia-se com o cão
Chamava-se Gaspar

Com as folgas no Pelotão
Trabalhou por outros lados
E o Henriques viveu então
Os trabalhos dos retornados

Quando ao volante do jipão
Sempre de colarinho aberto
Fazia grande confusão
O guiar do Carlos Alberto

Cumpriu sempre com prontidão
Quaisquer ordens do comando
Só uma vez é que não
Conduziu bem o Armando

Na Mercedes ou na Quipata
Sempre soube o seu destino
Só a cerveja é que mata
A pouco-e-pouco o Avelino

Saiu um dia de Salazar
Ir a Luanda … que missão !
Pôs-se o Braguita a chorar
P’la sua amante – o jipão

Era artista no ferro forjado
Veio dos lados do verde vinho
Se o queriam ver zangado
Era chamar-lhe Mautinho

Com a ferramenta na mão
Gostava de comer de tudo
Ficou o Vila Real então
Um grandecíssimo barrigudo

Agarrado às tetas delas
Qual vaca que se munge
Com os pretos nas gamelas
Comeu o Fernando funge

Uma vez foi pendurado
Aquele meu braço canhoto
Tudo faziam ao coitado
Do Estêvão “Gafanhoto”

De roupa suja ou lavada
Louvor lhes deu o Comando
Aos que matavam a malvada
Taveira de Castro e Orlando

Ignorante mas convencido
Usava grandes palavrões
Mesmo sem nexo ou sentido
O Silva de Coimbrões

Na pintura fez borrada
Mas estava melhor por fim
Porque até na macacada
Melhorou muito o Delfim

Armado em galo emproado
E feito garanhão também
Foi às frangas veio depenado
O Vieira de Santarém

Pela sua grandeza d’alma
Nunca se lhe faça dano
Sendo forte sobra-lhe calma
Ao Conceição – Alentejano

Houve alguém que ficou chocho
Por não compreender bem
A zanga do Zé Rebocho
Ao chamar-lhe filho da mãe

Foi surpresa encontrar
Naquele calor de inferno
Um que sempre devia estar
Fresquinho, porque era Inverno

Por causa da escuridão
Ler os nomes não consigo
Para os negros do Peloão
Vai um abraço de amigo

Nenhuma desgraça lhe caia
Pois apenas nos fez dó
Mas o 1º. Sargento Maia
Deve ter-nos cá um pó !

Já ficaram pelo caminho
Acabou a sua história
Durães, Cardeal e Fininho
Silêncio em sua memória

E sendo os últimos os primeiros
Terei que dizer também
Que para nós caldeireiros
D. Aurélia foi uma Mãe

De mim não vou escrever
Pois o próprio não o faz
Aquilo que posso dizer
É que me chamo Roxo Vaz

Brinde especial:
Brindemos agora por elas
As namoradas de então
Por causa da falta delas
Quantos o esgalharam à mão

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